Castle Island: A Primeira Loja Virtual Totalmente Reconhecida
INTRODUÇÃO
Em tempos de pandemia, diversas lojas passaram a adotar a prática de fazer reuniões virtuais através de ferramentas tais como o Zoom, Google Hangouts, entre outros. Fato esse que tem sido, inclusive, incentivado pelas Potências como uma forma de manter os laços de fraternidade durante o isolamento social.
Essa situação suscita algumas discussões sobre os limites da tecnologia: Até que ponto uma reunião virtual pode ser considerada oficial? O que é lícito, ou não, discutir online, daquilo que compõe a essência da Maçonaria?
As respostas pessoais são as mais variadas e provavelmente a Maçonaria passará por vários debates até que soluções mais definitivas sejam encontradas.
UMA LOJA TOTALMENTE VIRTUAL
O que muitos não sabem, contudo, é que desde 2012 existe uma Loja Simbólica que se reúne de forma totalmente virtual, inclusive ritualisticamente.
Trata-se da Castle Island Virtual Lodge 190, da Grande Loja de Manitoba, no Canadá, uma Grande Loja que tem pleno reconhecimento por parte da Grande Loja Unida da Inglaterra.
A Castle Island Virtual Lodge pratica o chamado Craft Canadense, um Rito que foi concebido a partir de uma variação do Craft Inglês, mais especificamente do Ritual de Emulação.
As reuniões ritualísticas da Castle Island Virtual Lodge têm todos os cargos característicos e é realizada com os irmãos paramentados. Há abertura e fechamento de loja e até mesmo o Livro da Lei está presente.
A missão da Loja é descrita da seguinte forma: “Ajudar na educação dos irmãos em todo o mundo. Modelar a relevância futura da fraternidade na vida dos homens através de um programa de qualidade.”
A ORIGEM
O nome “Castle Island” surgiu porque, originalmente, a loja se reunia na plataforma virtual Second Life, um aplicativo de realidade virtual. Nele, os irmãos literalmente construíram um castelo numa ilha particular. Hoje em dia, contudo, as reuniões migraram para aplicativos mais tradicionais.
Mas, se a Castle Island Virtual Lodge surgiu numa época em que não havia pandemia, qual foi a razão?
Desde 1998, quando a Internet Lodge 9659 foi fundada na Grande Loja Unida da Inglaterra, já havia um anseio cada vez maior por atividades maçônicas online. Porém, a Internet Lodge, a exemplo de outras que vieram depois, como a Lodge Ireland 2000 (da Grande Loja da Irlanda) tinham uma série de atividades online, mas ainda mantinham muitas coisas apenas em reuniões presenciais.
Os irmãos da Castle Island Virtual Lodge desejavam, portanto, ter o cotidiano das sessões maçônicas online.
Além disso, apesar da Castle Island Virtual Lodge aceitar membros de todas as idades, a Loja afirma categoricamente o seu foco: “Ser uma loja de pesquisas para millennials.” Isto é, com foco nas pessoas de quarenta anos para baixo. Talvez por saberem que as pessoas das gerações anteriores terão maior dificuldade de aceitar a ideia.
A EXPERIÊNCIA
Cristopher Hodapp, autor do livro “Maçons para Leigos” (Freemasons for Dummies), afirma sobre eles:
“É a única loja verdadeiramente estabelecida na Internet, que trabalha sob uma carta patatente de uma Grande Loja regular e reconhecida no mundo. É também a única loja no mundo em que você pode estar em casa 10 segundos após a última batida do malhete.”
Além disso, a Loja pretende abrir um debate ainda mais profundo sobre o real significado do termo “Loja”, conforme eles mesmos dizem: “O que é uma Loja? A Loja são as pessoas ou a Loja é o edifício? Ou é as duas coisas?”
Abaixo, uma descrição feita por eles mesmos sobre seu funcionamento:
“Nossa loja é aberta ritualisticamente e conduzem os assuntos da loja no mesmo formato reconhecido que milhares de lojas fazem todos os meses.
Depois que todos os assuntos são tratados, a loja é fechada ritualisticamente. Os irmãos desempenham os cargos da loja como loja [convencional]. Temos um Venerável Mestre, Vigilantes, Diáconos, Guarda Interno e um Past Master Imediato. Abrimos a loja com o VSL [Volume da Lei Sagrado, i.e., o Livro da Lei] aberto com o Esquadro e o Compasso e exibimos nossa Carta Patente. Todo componente “necessário” para uma loja é utilizado.”
A experiência é melhor definida pelo próprio Grão-Mestre da Grande Loja de Manitoba, Andrew R McLennan, que há anos participa ativamente de várias sessões:
“Embora seja necessário um pouco de ajuste com a experiência de tijolos e argamassa [N. do T.: do inglês ‘bricks and mortar’, expressão idiomática para se referir a um local que existe fisicamente], isso não diminui a experiência de visitar e ser bem-vindo na Castle Island Virtual Lodge.”
VISITAÇÃO
A Castle Island Virtual Lodge é aberta a visitantes de Potências reconhecidas pela Grande Loja de Manitoba, o que inclui as Potências que têm tratado com a Grande Loja Unida da Inglaterra e/ou que estão no List of Lodges. Os visitantes recebem link e senha para participar, mediante contato previamente realizado com o Secretário da Loja, fornecendo a devida documentação.
CONCLUSÃO
O objetivo deste artigo é meramente informativo, não tendo qualquer pretenção de opinar sobre se a prática é ou não adequada.
Concordando ou discordando, a Castle Island Virtual Lodge 190 é uma realidade e as deliberações da Grande Loja de Manitoba, enquanto Potência soberana, devem ser respeitadas.
Ainda assim, é inevitável que o tema fomente alguma reflexão e debate: Seria a Castle Island Virtual Lodge 190 um “ponto fora da curva”? Seria uma nova realidade com a qual devemos nos acostumar? E, por fim, como as novas tecnologias devem ser adequadas à tradição maçônica?
Provavelmente, cada Potência terá uma resposta, pelo menos num primeiro momento.
Até porque o mundo ainda está aprendendo a se acostumar à nova realidade, que já estava se configurando gradualmente e que foi acelerada pela pandemia, e que envolve coisas muito maiores do que tão somente a Maçonaria.
Quanto antes esses debates se iniciarem, independentemente da resposta, melhor para a Maçonaria.
FONTES
https://civlodge190.ca/
http://freemasonsfordummies.blogspot.com/2016/03/fake-freemasonry-virtual-grand-lodge.html
https://www.facebook.com/groups/332208636847824
https://www.glmb.ca/
SOBRE O AUTOR
Luis Felipe Moura é M∴ M∴, membro da ARLS Conde de Grasse-Tilly 301 (GOP/COMAB). É bacharel em Letras (inglês), mestre em Teologia e em Psicanálise, atualmente trabalha como psicanalista e professor de Bíblia Hebraica.
Concordo com o Ir. Leonardo, assuntos Administrativos poderiam sim fazer parte das Telesessões.
Cabendo às Sessões presenciais temas que demandam ritualística como iniciação, elevação, Exaltação e outros que tais próximos ao que demandam as tradições Maçônicas.
Vale lembrar que no Virtual, teleencontros apesar do “deslumbramento” de grande maioria da população, não apenas na maçonaria, não substitui o encontro presencial, o calor humano necessário para o encontro de pessoas. O aperto de mão, o abraço fraterno são insubstituíveis.
Que a “preguiça”, comodidade instalada pelo meio meio virtual, não nos anime a ponto de desencorajar nosso anseio de nos encontramos para um “papo legal” !!!@# Grato, Roberto, Marilia-SP
Esta não é uma simples tendencia p o futuro, esta é a nova realidade, ou as lojas se adaptam ou vão ficar ficar sem obreiros, o avanço da tecnologia provoca rápidas e brutais mudanças! Ou alguém aí consegue se imaginar sem celular, por exemlo!
Interessante !
Entendo que um primeiro passo para isto seria criar uma plataforma virtual para tratar os assuntos administrativos, em grupos distintos e respectivas comissões, desafogando as Lojas deste encargo durante as oficinas, o que é um desrespeito à ritualística, e dar ênfase, em Loja, ao que é Justo às tratativas espirituais com a apresentação de pranchas de arquiteturas, e aprovação de temas pela Assembleia, já previamente discutido virtualmente.
Achei interessante a matéria , que talvez seja uma opção muito em breve!!!
Não tinha conhecimento de uma loja virtual.
Excelente