O Que os Maçons Franceses Estão Lendo
A Grande Loja Nacional Francesa divulgou no último dia 10, uma lista com os 20 livros maçônicos mais vendidos da Scribe em 2019, uma das maiores livrarias maçônicas da França.
A lista revela um pouco sobre o que nossos irmãos franceses têm lido ultimamente. A lista se segue abaixo, com comentários em seguida:
1 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 111 – Le Rite Français, l’Esprit d’un Rite, Collectif, (GLNF),
2 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 109 – Église et Franc-Maçonnerie, Collectif (GLNF),
3 – Franc-maçon, mais pourquoi ?, Jean-François Variot (Dervy),
4 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 105 – Le Rite Écossais Ancien et Accepté, l’Esprit d’un Rite, Collectif, (GLNF),
5 – Transmettre #7 : les Rites – REAA Le manuscrit Francken de 1783, Équipe nationale de la Formation et de l’Instruction (GLNF),
6 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 108 – Franc-Maçonnerie, entre déisme et théisme, Collectif, (GLNF),
7 – Transmettre #6 : l’histoire – 300 ans de Maçonnerie britannique, Équipe nationale de la Formation et de l’Instruction, (GLNF),
8 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 110 – L’Esprit des Landmarks, Collectif, (GLNF),
9 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 94 – Le RER, l’Esprit d’un Rite, Collectif, (GLNF),
10 – Rituel style Émulation expliqué, Herbert F. Inman (Éd. de la Tarente),
11 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 112 – Alchimie et construction de soi, Collectif, (GLNF),
12 – Régulateur du Maçon (Le). Les grades symboliques du Rite Français – Histoire et textes fondateurs, Pierre Mollier (Dervy),
13 – Les hauts grades du Rite Français – Histoire et textes fondateurs – le Régulateur des Chevaliers maçons, Pierre Mollier (Dervy),
14 – La Franc-Maçonnerie à voix haute, Jean-Pierre Servel (Scribe),
15 – Cahiers Villard de Honnecourt n° 107 – La voie sacrée, Collectif, (GLNF),
16 – Les vraies origines de la franc-maçonnerie ? De l’académie de Florence à la Grande Loge de Londres, Rapp Michael (Éd. Bussière),
17 – En Silence… mes Frères ! Tome I, Lucien Millo (LiberFaber),
18 – Pratique de l’Arc Royal expliquée, Herbert F. Inman (Éd. de La Tarente),
19 – Aux sources de l’Écossisme, le premier Tuileur illustré (XVIIIe siècle) – Tableaux de loge et bijoux maçonniques, Dominique Jardin (Dervy),
20 – Pratique de La Marque et du Royal Arc Mariner/Nautonier expliquée, Herbert F. Inman (Éd. de la Tarente).
O que se pode observar dessa lista?
Quantos aos Ritos
A primeira coisa é que, apesar do REAA ser o rito mais praticado entre os maçons franceses regulares, ele aparece na segunda colocação em termos do interesse literário dos maçons franceses. Isso mostra que há um desejo crescente do resgate do Rito Francês (ou Moderno) por parte dos próprios franceses. E isso não se restringe ao simbolismo, mas também se expande para os altos graus.
Em se tratando do segundo colocado na lista, o REAA, surpreende o interesse dos franceses pelo manuscrito Francken, uma das principais fontes históricas do chamado Rito de Perfeição. Isso indica que os franceses certamente possuem um interesse grande nas origens francesas do rito. Afinal, apesar de ter ganhado a forma atual em Charleston, nos EUA, o REAA tem DNA francês na maioria de seus graus.
Não surpreende que haja um interesse grande no sistema inglês, como o Emulação e seus graus colaterais, pois, na sua concepção, a GLNF foi criada para trabalhar essencialmente o Craft inglês. Porém, surpreende que o Emulação tenha mais interesse entre os franceses do que, por exemplo, o RER, que é um rito de origem francesa. É igualmente surpreendente que, entre os praticantes do Craft inglês, duas das três obras do “top 20” sejam dos graus colaterais.
Simbolismo x Altos Graus
Da literatura referente especificamente aos graus simbólicos, tem-se 4 livros. Já dos chamados altos graus, tem-se igualmente 4 livros. Há 2 que tratam sobre ambos os universos. Isso indica que um alto número dentre os maçons regulares pelo menos razoavelmente estudiosos (i.e. que adquirem este tipo de literatura), uma boa parte se interessa pelos chamados altos graus (ou graus colaterais, no caso do Craft inglês).
Considerando que as lojas inglesas são minoritárias na França, é curioso que duas dessas obras sejam dos graus colaterais ingleses, o que provavelmente indica que a maioria dos maçons franceses que opta por esse sistema acaba seguindo por esses graus.
Esse grande interesse dos franceses pelos altos graus também parece se opor à ideia popular no Brasil de que a verdadeira Maçonaria se restringiria aos três graus simbólicos.
Outros Assuntos
Dentre os outros assuntos, pode-se perceber que os franceses têm grande interesse por fontes históricas. Mesmo entre a literatura dos ritos, a historicidade é um tema importante. Especialmente naquilo que diz respeito às origens da Maçonaria, já que a França exerceu papel importante nisso.
Não é surpresa que algumas obras que buscam esclarecer o que é Maçonaria tenham boa tiragem, haja vista que tal literatura frequentemente é apresentada a neófitos, parentes ou mesmo buscada por curiosos.
A presença na lista de um livro sobre Teísmo e Deísmo parece indicar que esse debate – uma das facetas das discussões sobre o papel do GADU da Maçonaria, que muito marcaram a França no século 19 – ainda continua bastante vivo entre os franceses. É possível que o livro que fale sobre a relação Igreja e Maçonaria também tenha algo a ver com esse tema.
Embora a Scribe também se defina como uma livraria esotérica e espiritualista, os maçons franceses regulares não parecem muito interessados em ocultismo ou em temas afins.
A única obra que vai nessa direção é a que tece paralelos entre Maçonaria e Alquimia. Porém, considerando que vários ritos trazem simbolismo alquímico. A obra em questão também parece ir mais numa ideia de autoconhecimento e construção psicológica, sem qualquer viés ocultista. Nesse ponto, portanto, os maçons franceses regulares parecem estar bem distantes dos brasileiros.
Fontes
Postagem da GLNF nas redes sociais: https://www.facebook.com/GLNF.officiel/posts/2678367425561880
Listagem da Livraria Scribe: https://www.scribe.fr/liste-produits-598/top-20-des-ventes-en-2019.aspx
Sobre o Autor
Luis Felipe Moura é M∴ M∴, membro da ARLS Conde de Grasse-Tilly 301 (Grande Oriente Paulista/COMAB). É bacharel em Letras (inglês), mestre em Teologia e em Psicanálise, atualmente trabalha como psicanalista e professor de Bíblia Hebraica.
Eu gostaria de ler livro sobre a origem da ritualística em loja, em português, vocês poderiam indicar algum?
Muito bom! Destaco, ainda, a referência 9, sobre o Rito Escocês Retificado. Nosso Rito, o mais antigo em prática, e o mais cristão de todos, foi o Rito fundador da GLNF, em 1913. Está em franca expansão no Brasil.